quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Eu quase nunca tive um cachorro

Há alguns dias eu assisti ao filme Marley e Eu, eu não tinha lido o livro, mas tinha escutado alguns elogios sobre, mas nada que me interessasse. Realmente, não tem nada demais, é só a historia de um cachorro desastrado, mas não é também um filme de sessão da tarde é claro, se não ele não seria o sucesso que foi.
O personagem principal John Grogan interpretado por Owen Wilson é um jornalista casado com a também jornalista Jenny Grogan interpretada por Jennifer Aniston, dois grandes nomes do cinema americano. Ele queria dar algo para sua esposa cuidar enquanto não tivessem filhos, ele nunca tinha tido um cachorro quando criança assim como eu nunca tive. Alias... Eu tive um.
Minha família viajava todos os anos para São Luis, Maranhão, terra de meus parentes maternos, meu pai poucas vezes ia junto conosco, portanto ficava em casa sozinho.
Certo dia ele nos liga avisando que tinha carregado um cachorro pra casa, nosso primeiro cachorro, um vira-lata. Voltando para casa, nós tivemos que dar um nome para o cachorro já que meu pai o chamava de boca preta por que... Ele tinha a boca preta. O chamamos de Boris em homenagem ao jornalista Boris Casoy (que por acaso é uma bichona enrustida). Eu na época morria de medo de cachorro, mas havia gostado da idéia, afinal todo mundo tinha um cachorro, menos eu.
Boris era um vira-lata vistoso, tinha um pelo amarelo bonito, até passava por pastor alemão para os menos interados em cachorro, com o tempo ele foi se mostrando um cachorro extremamente mal educado, desastrado e burro (igual o técnico da seleção) rasgava calças, chinelos, derrubava vasos, igual ao Marley do filme.
Ninguém se apegara a ele devido a isso, meu pai tentava o educar o enchendo de pancada, meus irmãos não estavam nem ai pra ele, nem minha mãe. Minha família não era mesmo muito chegada em cachorros, mas eu era. Mesmo eu me apegando pouco a ele também, eu gostava dos cachorros dos meus amigos (eles não comiam minhas calças e chinelos) pelo menos daqueles poucos que eu não temia. O Marley do filme destruía tudo também e nem apanhava por isso, o casal do filme acabou tendo filhos que começaram também a se apegar ao desastrado cachorro.
Boris também era medroso, uma vez quando tinha uma galinha no quintal de casa ele se cagou (literalmente) de medo da galinha, achamos então um bicho completamente imprestável, um cachorro grande que tem medo de uma galinha. Ele, cansado de ser mal tratado, certo dia fugiu, não sei por que foram atrás dele e o trouxeram de volta pra casa, ele ficara feliz por voltar, nós também, pra mim tinha surgido a esperança de ter um bom cachorro, ele poderia voltar mais educado, arrependido por seus atos (na minha cabeça de criança é claro). No filme, em certo dia de crise de Jenny, em meio a bagunça que Marley fizera, ela acaba mandando despachar Marley. John então o levou para o apartamento de um amigo para passar uns dias até que a cabeça de sua esposa esfriasse, o amor de Jenny pelo cachorro desengonçado acabou falando mais alto e ele acabou voltando pra casa.
Após sua volta pra casa Boris voltou a fazer besteira, mas então minha mãe perdeu a paciência e nos chamou para uma conversa onde dissera que nós teríamos que dar o Boris, meus irmãos assim como meu pai concordaram e eu de coração e esperanças partidas também concordei. O cachorro foi dado a um amigo da minha mãe que conseguiu transformar aquele vira-lata medroso em um cão de guarda assim como queríamos, Boris acabou fugindo da casa de seu novo dono sendo capturado por uma carrocinha e morto. Marley voltou para casa, viu os filhos de seus donos crescerem e se apegarem cada vez mais a ele. Com o tempo passando e com a vida curta de um cachorro ele já estava um tanto velho, começou então a adoecer e em meio a depoimentos emocionantes morreu. A família fizera o enterro do cão em meio a choros e depoimentos ainda mais emocionantes de cada um, na hora da despedida do seu dono John confesso que quase chorei, um depoimento muito emocionante para aquele cão considerado antes pelos próprios donos como o pior cão do mundo.
Quem diria que a historia de um cachorro mal educado por pouco, muito pouco, não me fizera chorar, acho que se eu já tivesse tido um cachorro por mais tempo tinha chorado. Quem sabe só não faltou a mim e a minha família um pouco de paciência para que tivéssemos vivido um caso de amor com aquele cão, um Boris e eu.

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