segunda-feira, 29 de março de 2010

Qual é o sentido da vida?

Aterrorizante na época da escola para mim, a filosofia abriu espaço ainda na Grécia antiga para a coisa mais importante para a evolução humana, o questionamento.

Tudo começou com a filosofia, todas as áreas de conhecimento surgiram a partir de contestações filosóficas, os questionamentos sobre a origem do universo, por exemplo, formaram as religiões e a teoria do Big Bang, as duas idéias mais empregadas nesse assunto.

Tão importante quanto os questionamentos sobre a origem do universo são os sobre o sentido do universo. A partir desse questionamento surgiram muitas filosofias, idéias, teorias. Chame do que quiser, ninguém nunca obteve e creio que nunca obterá êxito total que seja reconhecido como incontestável por toda população.

O porquê de isso ser impossível é a própria evolução da mente humana. Se no tempo em que a evolução genética humana formou uma imensidade de raças, se no tempo em que a evolução genética humana foi e está sendo capaz, por exemplo, de formar por meio de 7 notas musicais um número infinito de melodias que continuam a ser criadas todos os dias, qual será o número de idéias e opiniões formadas por essa mesma mente humana em evolução constante? Um número incontável, com certeza.

“Ser ou não ser... Eis a questão? Que será mais nobre para a alma? Suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes?”

Reflita o tempo que for preciso para entender plenamente a reflexão acima.

Como você deve (ou deveria) saber essa frase está presente na peça de teatro mais famosa de todos os tempos, Hamlet de William Shakespeare. Nas entrelinhas desse pedaço da reflexão de Hamlet (personagem principal da peça) existe uma conexão no que estou a falar aqui.

Todas as religiões buscam o fim da dor, o budismo tem como idéia principal alcançar o fim da dor e do sofrimento, no cristianismo o fim da dor e do sofrimento ocorrerá no paraíso para aqueles que se arrependerem de seus pecados, nesse pequeno trecho de Shakespeare existe um questionamento (indireto) sobre a dor. Suportar a dor ou lutar contra ela? Refletindo sobre essa reflexão, digo que lutar contra a dor não significa não senti-la, é senti-la, mas lutar contra seus efeitos, não se abater por ela apenas porque dói, afinal, a dor é humana, portanto não senti-la é negarmos uma característica humana. Já suportar a dor nesse sentido não consente também em apanhar calado, mas em não procurar respostas para a dor julgando já ter compreendido-as por algo sobre-humano que nos condiciona naturalmente a dor, algo sobrenatural, metafísico. Se não vês nexo de causalidade entre o que reflito e o que reflete Shakespeare, analise a seqüência da reflexão de Hamlet.

“Morrer... dormir... mais nada... Imaginar que um sono poe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se. Morrer.., dormir.., dormir... Talvez sonhar... E ai que bate o ponto. O não sabermos que sonho poderá trazer o sono da morte, quando alfim desenrolarmos toda a meada mortal, nos poe suspensos.”

Sem alcançar respostas para a dor e para o sofrimento, a tendência é acreditar que aqui na Terra o ciclo não acaba, não importa como, se por reencarnação, pela eternidade no paraíso, a tendência humana até hoje é acreditar que tudo não acaba aqui. Não conseguimos acreditar na dor e no sofrimento mesmo os vendo e os sentindo, preferimos acreditar que o que vivemos é apenas uma passagem, uma passagem pra vida eterna onde tudo será perfeito sendo que não sabemos ao menos o que é a perfeição ou ao menos se ela existe. Cremos na perfeição, “o que você crê você não sabe, o que você sabe você não crê”.

Mais Hamlet...

“É essa idéia que torna verdadeira calamidade a vida assim tão longa! Pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a agonia do amor não correspondido, as leis amorosas, a implicância dos chefes, e o desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte – terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou – que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados?”

Chega-se então ao ponto máximo da questão, ninguém suportaria a dor se pudesse acabar com ela em um piscar de olhos ou com um punhal como diz o rancoroso Hamlet, o fato é que não podemos. Então tememos a “Undiscovered Country”, tememos o que não conhecemos para não encararmos o que nós conhecemos. Grande sinal de fraqueza espiritual esse que damos.

Dormir... Acordar... Acreditar... Lutar, lutar e nunca se entregar. É assim que manifestamos algo realmente sobrenatural. Lutando brava ou braviamente se preciso for contra o mar de desventuras, contra o nosso mar de desventuras. Lutarmos contra o que podemos ver. Lutarmos diariamente com nós mesmos, entre nós mesmos, contra o fado sempre adverso, lutar pelo seu ideal.

Para terminar o raciocínio, duas frases (mais simples do que as de Shakespeare) tiradas de músicas resumem muito bem o sentido do texto.

Querer sentir a dor não é uma loucura, fugir da dor é fugir da própria cura. (Não fuja da dor – Titãs)

Um homem só irá te salvar, esse homem é você! (Um Homem Só – Dead Fish)

6 comentários:

  1. Aprendas a viver e saberás morrer bem. Sêneca
    Belo Post mano Yves,
    P o teu deleite e quando lhe sobrar tempo leia,
    Assim falava Zaratrusta, de Nietzsche.

    N sei si vc ja teve contato com o autor, mas eu diria, como aluno do curso de filosofia que ele é uma injeção de animo p/ os desacreditados.

    abrçs

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  2. Nietzche eh uma boa pedida mano! Indico pra voce \/

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  3. Além de mim, mais alguém desistiu de ler o post antes do primeiro parágrafo ?

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  4. "Além de mim, mais alguém desistiu de ler o post antes do primeiro parágrafo ?" Ele perdeu muita coisa!
    Sério... simplesmente AMEI esse post... Tipo, nem sei oq dizer.. Você tem uma linha de raciocínio incrível Yves, Parabéns! ;*

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  5. Foda, texto ótimo Yves, muito bom mesmo...

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